Quando considerar água mineral: se a água da torneira for inadequada (excesso de dureza, contaminantes) e para espécies sensíveis, principalmente em aquários pequenos. Quando evitar: tanques grandes (custo elevado), ou quando a água mineral disponível tiver parâmetros incompatíveis (muito mineralizada para peixes de água mole, por exemplo).
Mitos desfeitos: “Água engarrafada é automaticamente segura para aquário” – nem sempre, verifique a química; “Se posso beber, meu peixe também pode” – certos compostos tolerados por humanos não o são por peixes (cloro, cobre, etc.). Use pensamento crítico ao escolher a fonte de água do aquário.
2. Água da Torneira: Vilã Escondida no Seu Aquário?
A comodidade da água da torneira é inegável – basta abrir o registro. Porém, para aquaristas, a água da rede pública traz uma bagagem química que pode ser uma “vilã oculta” se não tratada e entendida. Vamos aos fatos: a água tratada municipal contém aditivos e impurezas controladas que, embora seguras para nós, podem ser nocivas em um ecossistema fechado como o aquário. Cloro e cloramina, os desinfetantes mais comuns, estão sempre presentes. A Portaria de potabilidade exige pelo menos 0,2 mg/L de cloro residual livre (ou 2 mg/L de cloramina) na distribuição, e até 5 mg/L de cloro é aceitável. De fato, em muitas cidades a água sai da torneira com ~1,5–2,0 ppm de cloro. Isso mantém a água potável segura contra patógenos, mas em aquários mesmo 0,1–0,3 ppm pode ser letal a peixes e destruir colônias de bactérias benéficas. Ou seja, nunca use água da torneira sem remover o cloro/cloramina! Um condicionador de água de qualidade torna-se item obrigatório para neutralizar esses agentes (geralmente via tiossulfato de sódio para cloro e reagentes específicos para quebrar cloramina, convertendo-a em amônia menos tóxica). Cloro vs. Cloramina – o duelo escondido: O cloro livre dissipa-se relativamente rápido (24–48h em repouso ou algumas horas com aeração forte), enquanto a cloramina (cloro + amônia) é muito mais estável e não sai deixando a água “de repouso”. Cidades que usam cloramina (ex.: muitas capitais) entregam água “segura” porém traiçoeira para aquaristas – mesmo após dias em balde, a cloramina permanece, necessitando condicionador químico ou carvão ativado para remoção. Vale conferir com a companhia local qual método de desinfecção é usado.
Outro componente “vilão” potencial é o nitrato presente na água de abastecimento. Por lei, o nitrato na água potável não pode exceder 10 mg/L N (cerca de 45 mg/L de nitrato), mas muitas redes conseguem manter bem abaixo disso. Por exemplo, relatórios da Sabesp (SP) indicam nitrato frequentemente <1,0 mg/L em mananciais tratados. Ainda assim, mesmo 1–2 ppm de NO₃⁻ adicionados a cada TPA semanal podem se acumular no aquário ao longo do tempo. Imagine um aquário onde a água de torneira tenha 5 mg/L de nitrato: fazendo trocas de 20% semanais, esse nitrato “de reposição” impedirá que os níveis do aquário caiam muito abaixo desse patamar, agindo como carga constante. Em sistemas sem plantas para consumir nitrato, é comum ver concentrações crônicas de 20–30 mg/L, apesar das TPAs, se a fonte já contém nitrato. Em contraste, quem usa água isenta (mineral leve, RO/DI) pode abaixar nitratos indefinidamente apenas com TPAs, evidenciando que a torneira pode sim ser uma vilã “invisível” ao contribuir silenciosamente com poluentes.
Composição típica da água da torneira: Além de cloro/cloramina e eventual nitrato, a água pública carrega vários íons dissolvidos do percurso natural e do tratamento. Dureza geral e alcalinidade variam conforme a fonte – águas de rios e represas graníticas tendem a ser macias (GH baixo, 1–3 °dH; KH 1–2 °dH), enquanto águas de poços calcários podem ser duras (GH > 10 °dH). As empresas fornecem esses dados em relatórios periódicos; por exemplo, águas de abastecimento no sudeste do Brasil costumam ter GH moderado (~2–5 °dH) e pH levemente alcalino (7,0–8,0) para prevenir corrosão de tubulações. Em São Paulo, a água tratada sai com pH ~7,2–7,6 e alcalinidade em torno de 30–70 mg/L CaCO₃ (2–4 °dKH), dureza total também baixa – propícia à maioria dos peixes tropicais. Já em Fortaleza (CE), parte da água é de poços; relatórios da CAGECE indicam dureza bem maior e nitratos mais elevados em certas zonas, devido à infiltração de esgoto no lençol – há casos históricos de nitrato próximo ao limite em aquíferos urbanos densamente povoados. Ou seja, cada localidade tem sua “personalidade química”. Conheça a sua água: consulte a companhia (SABESP, COPASA, CAGECE etc.) e, se possível, teste você mesmo GH, KH, pH e nitrato da torneira periodicamente. Isso evitará surpresas desagradáveis no aquário.
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