Água com Gás Ajuda na Ressaca? O Que a Ciência Realmente Diz

Acordar com dor de cabeça latejante, boca seca, enjoo persistente e a sensação de que o corpo inteiro pesa mais do que deveria. A ressaca, velha conhecida da humanidade, costuma vir como punição inevitável após uma noite de excessos etílicos. No meio das receitas caseiras que circulam — do café forte ao caldo gorduroso — há sempre quem sugira um copo de água com gás. Mas afinal, até que ponto essa bebida pode aliviar o mal-estar?

Entendendo a Ressaca: Mais do que Desidratação

Durante muito tempo acreditou-se que a ressaca era apenas consequência da desidratação provocada pelo álcool. O raciocínio parecia simples: o álcool é diurético, faz o corpo eliminar líquidos e, no dia seguinte, a falta de água explicaria a sede, a dor de cabeça e a fadiga.

A ciência, no entanto, mostra um quadro mais intrincado. O desconforto é resultado da ação combinada de fatores:

• desidratação e desequilíbrio eletrolítico

• acúmulo de substâncias tóxicas, como o acetaldeído

• estresse oxidativo e inflamação sistêmica

• distúrbios no sono e na regulação hormonal

Ou seja: a ressaca é multifatorial, e por isso não há um único remédio capaz de neutralizá-la por completo.

Água com Gás: Um Aliado da Hidratação

Se a água pura é essencial para repor líquidos, a versão com gás não fica atrás. Pesquisas apontam que sua capacidade de hidratar é equivalente, com a vantagem de que muitas águas minerais naturalmente gaseificadas trazem sais minerais importantes, como magnésio, sódio e potássio, que ajudam a reequilibrar o organismo.

Para quem luta contra a ressaca, esse detalhe pode fazer diferença: a reposição de eletrólitos acelera a recuperação da função muscular e reduz a sensação de fraqueza.

Efeitos no Estômago e no Enjoo

Uma das queixas mais recorrentes na manhã seguinte é o estômago embrulhado. Nesse ponto, a água com gás ganha um crédito extra. A efervescência estimula a motilidade gástrica, ajudando na digestão e atenuando náuseas leves.

Não se trata de um efeito universal, mas é suficientemente reconhecido em contextos clínicos leves para justificar a recomendação popular.

O Papel das Enzimas: Quando o Gás Acelera o Metabolismo

Em 2013, um grupo de pesquisadores chineses analisou como diferentes bebidas influenciavam as enzimas que metabolizam o álcool — a ADH e a ALDH. A surpresa foi notar que refrigerantes e bebidas gaseificadas, como o Sprite, aumentaram significativamente a atividade da ALDH, responsável por eliminar o acetaldeído, substância fortemente associada à ressaca.

Ainda que esses testes tenham sido conduzidos em laboratório, e não em ensaios clínicos com humanos, a hipótese é instigante: bebidas carbonatadas poderiam, de fato, ajudar o organismo a se livrar mais rapidamente dos resíduos tóxicos do álcool.

O Que a Hidratação Não Resolve

Apesar dessas vantagens, a água com gás está longe de ser uma solução completa. Um estudo da Universidade de Utrecht concluiu que, embora beber água alivie a sede, os sintomas centrais da ressaca — como dor de cabeça, náusea e fadiga — pouco se alteram apenas com hidratação.

A explicação está no caráter sistêmico da ressaca: a inflamação e o estresse oxidativo continuam agindo, e só o tempo e o repouso permitem que o corpo restabeleça o equilíbrio.

Outras Estratégias Complementares

Nenhum alimento ou bebida isolada conseguiu se provar como antídoto definitivo contra a ressaca, mas algumas opções parecem oferecer benefícios parciais:

• Pêra asiática: estudos coreanos sugerem que ajuda a acelerar o metabolismo do álcool.

• Ovos: fonte de L-cisteína, auxiliam na neutralização do acetaldeído.

• Bebidas isotônicas e água de coco: repõem eletrólitos de forma eficaz.

• Chás antioxidantes: podem aliviar sintomas, embora alguns interfiram negativamente na metabolização do álcool.

A melhor abordagem, segundo especialistas, é combinatória: hidratação abundante, alimentação nutritiva, descanso adequado e, sobretudo, moderação no consumo de álcool.

Conclusão: Um Copo Útil, Não Milagroso

Sim, a água com gás pode ajudar na ressaca. Ela hidrata, alivia desconfortos gástricos e pode até ter impacto indireto no metabolismo do álcool. Mas não se deve esperar milagres. Os sintomas resultam de um conjunto de fatores que nenhuma bebida sozinha consegue neutralizar.

Assim, incluir um copo de água com gás na rotina pós-festa é uma boa ideia — desde que acompanhado de descanso, nutrição equilibrada e, na próxima vez, uma dose extra de prudência.